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gnl - A sobrevida da Web (parte 2)

gnl AT framalistes.org

Assunto: GNU // Linux // Software Livre // Privacidade // Segurança // Linha de comandos

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A sobrevida da Web (parte 2)


Cronológico Linha  
  • From: hrcerq <hrcerq AT disroot.org>
  • To: gnl AT framalistes.org
  • Subject: A sobrevida da Web (parte 2)
  • Date: Sat, 20 Jan 2024 19:35:57 -0300
  • Authentication-results: rod3.framasoft.org; dkim=pass header.d=disroot.org header.s=mail header.b=MQm4T5u1; dmarc=pass (policy=reject) header.from=disroot.org; spf=pass (rod3.framasoft.org: domain of hrcerq AT disroot.org designates 178.21.23.139 as permitted sender) smtp.mailfrom=hrcerq AT disroot.org

Olá de novo.

O que vem a seguir é uma continuação do texto anterior. Falava sobre a
Web, como era inicialmente e como se transformou no que é hoje. Até
então eu trouxe uma percepção um tanto amarga, como não poderia deixar
de ser. Mas hoje eu vou usar um tom mais ameno e trazer um ponto de
vista complementar.

Eu falei sobre a atuação da W3C na defesa da Web e como eu penso que
isso foi insuficiente (e não deixei de pensar isso). Mas por outro
lado, preciso reconhecer que desde que o comércio adentrou na Web, a
W3C passou a sofrer uma pressão muito grande para que incorporasse
novos elementos (como cookies, por exemplo), uma pressão que
rapidamente saiu do controle. Seria injusto dizer que a W3C sozinha
poderia barrar todos os usos negativos que vemos na Web hoje.

"Mas então o problema seria o comércio?", você talvez se pergunte. Bem,
não necessariamente, vou explorar esse ponto em outra oportunidade,
pois isso requer uma discussão apartada.

Seja como for, apesar de todos os pesares temos ainda uma coleção de
padrões documentados que podemos usar como base para a construção da
Web. Padrões que garantem minimamente que o conteúdo e as aplicações
para a Web sejam interoperáveis, e que portanto ainda possamos de modo
independente, individualmente ou coletivamente, ajudar a construir a
Web.

Isto permanece válido até hoje. Temos ainda como os pilares da Web o
protocolo de transferência HTTP [1], o formato de documentos HTML [2] e
o formato de endereços URL [3]. Todos abertos, para quem quiser usar e
implementar.

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Http
[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Html
[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/URL

A questão é: ainda existem pessoas interessadas em construir a Web? Ou
existem apenas consumidores passivos hoje em dia? Começando pelo lado
da construção de conteúdo, algumas evidências apontam que ainda existem
sim, pessoas que valorizam um aspecto mais artesanal na Web, e querem
usá-la como uma forma de expressão.

Uma delas é o projeto Neocities [4], uma rede social alternativa onde os
usuários constroem suas próprias páginas Web (estáticas) e as hospedam
lá.

[4] https://neocities.org/

Um aspecto interessante desse serviço é o fato de que ele oferece
ferramentas para facilitar a construção das páginas, por usuários menos
tecnicamente inclinados, mas ao mesmo tempo pode hospedar páginas
feitas por usuários mais técnicos que desejam controlar cada detalhe da
construção.

Outro elemento importante é que as propagandas não estão presentes no
modelo de negócio do serviço, que é mantido por doações apenas, até
porque é um serviço que cativa justamente usuários menos simpáticos ao
uso de propagandas na Web (ao menos no modo como são usadas em páginas
de alcance massivo).

Como se pode notar, as páginas construídas nessa rede possuem um
caráter mais artístico, e muitas delas possuem estilos muito
chamativos, muitas imagens, GIFs animados e outros elementos que dizem
mais respeito à forma do que ao conteúdo. Será então que o conteúdo
está mesmo se tornando um elemento de importância menor na Web?

Para começar, creio que ter a Web como expressão artística é uma
abordagem válida e nesses casos, é natural que a forma assuma uma maior
importância, embora muitas páginas do Neocities possuam também um
grande foco sobre o conteúdo.

Mas tenho visto também muitas páginas Web construídas por pessoas que
notavelmente privilegiam o conteúdo e optam por um estilo mais simples
e minimalista.

Um bom artigo que corrobora essa visão (e que ao mesmo tempo é um
exemplo desse ponto) foi escrito pelo engenheiro de software
neozelandês, Ben Hoyt, intitulado "The small web is beautiful" [5].

[5] https://benhoyt.com/writings/the-small-web-is-beautiful/

No artigo ele menciona justamente esse aspecto da simplicidade e do
minimalismo, que muitos autores de páginas Web valorizam e mantém como
uma marca (positiva, na visão deles e também na minha). Ele cita vários
exemplos de páginas que aderem a esses princípios mostrando que simples
não quer dizer feio ou sem graça. Não raro é até o contrário, pois nos
poupa da poluição visual e das distrações.

Ele também cita alguns clubes de autoria Web nos quais você pode
hospedar páginas, desde que não ultrapassem um determinado tamanho
total. Desse modo, o 1MB Club hospeda páginas de no máximo 1MB, e o
512KB Club, de no máximo 512 KB, e assim por diante. Isso mostra o
desejo de algumas pessoas de aderir ao que é simples e direto, o que de
certo modo escancara o desperdício cometido por tantas outras páginas
Web acessadas massivamente pelo público internauta, acriticamente.

E afinal, esse desperdício é um problema tão grande assim? Temos
argumentos para pensar que tanto individualmente quanto coletivamente,
sim, é um grande problema. O jornalista Gerry McGovern publicou um
livro chamado World Wide Waste. Um trecho desse livro ele
disponibilizou no site "A List Apart" (que é focado em boas práticas
para a autoria na Web), sob o título Webwaste [6].

[6] https://alistapart.com/article/webwaste/

No artigo, ele traz estatísticas sobre o aumento de tamanho na Web, sua
proporção por tipo de conteúdo e o impacto que isso tem sobre o consumo
de energia necessário para servir todo esse conteúdo. Nesse sentido, o
desperdício possui um impacto ambiental (o que até deveria ser uma
obviedade). Para além disso, o desperdício também possui um impacto
sobre a experiência que temos com a Web, pois o tempo necessário para
acessar o conteúdo fatalmente vai aumentar quanto maior for esse
desperdício.

Até aqui, eu falei apenas sobre o aspecto do conteúdo Web. Porém, e em
relação ao software necessário para fazer tudo isso funcionar? Será que
temos ainda uma Web saudável nesse aspecto? Novamente, eu já falei
demais e acho que esse pode ser um próximo assunto. Se você chegou até
aqui, obrigado pela leitura, e até uma próxima.


--
Att,
@hrcerq

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