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gnl - Re: Mergulhei nas águas do OpenBSD

gnl AT framalistes.org

Assunto: GNU // Linux // Software Livre // Privacidade // Segurança // Linha de comandos

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Re: Mergulhei nas águas do OpenBSD


Cronológico Linha  
  • From: Hugo Cerqueira <hrcerq AT disroot.org>
  • To: gnl AT framalistes.org
  • Subject: Re: Mergulhei nas águas do OpenBSD
  • Date: Sun, 25 Aug 2024 23:48:30 -0300
  • Authentication-results: rod3.framasoft.org; dkim=pass header.d=disroot.org header.s=mail header.b=RYUN+aBQ; spf=pass (rod3.framasoft.org: domain of hrcerq AT disroot.org designates 178.21.23.139 as permitted sender) smtp.mailfrom=hrcerq AT disroot.org; dmarc=pass (policy=reject) header.from=disroot.org

Olá de novo, pessoal.

Eu estava falando sobre minha migração para o OpenBSD e fiquei devendo
uma continuação, falando mais especificamente sobre a experiência que
tive até agora com o sistema. Então vamos lá.

Vou falar um pouco sobre alguns pontos que considerei positivos sobre o
sistema, outros que achei negativos e outros que possuem alguma
relevância mas não vejo como positivos ou negativos, portanto neutros.

Pontos positivos
================

- Documentação completa e organizada
- Configurações mais seguras por padrão
- Economia de recursos
- Processo de upgrade
- Infraestrutura do projeto
- Hierarquia do sistema de arquivos
- Serviços nativos

A documentação do OpenBSD é excelente, como é típico nos BSDs. Além de
tudo que realmente importa estar disponível nas man pages, para
consulta a qualquer momento sem depender de uma conexão com a Internet
(o que é vantajoso mesmo tendo conexão), ainda é possível também obter
mais informações no FAQ oficial, que organiza as informações mais
procuradas de um modo relativamente didático.

Em particular, os utilitários nativos do sistema possuem páginas de
manual muito boas, e você nunca vai esbarrar naquele aviso irritante do
tipo "para acessar o manual completo acesse info(programa)". Que é
basicamente o mesmo que dizer "esse manual foi criado à toa".

O sistema já inicia com configurações sensatas para segurança, não
sendo necessário ficar "cobrindo buracos" do sistema após a instalação.
Além disso, ele é super econômico com os recursos, aqui ele inicia
consumindo cerca de 175 MB, isso já contando serviços como NTPD,
Xorg/XenoDM, mais o gerenciador de janelas (cwm) e o gerenciador de
composição (picom), que diga-se de passagem consome em média 30MB (no
linux passava fácil dos 100MB). Além disso, a recuperação da memória
liberada por programas já encerrados é relativamente rápida.

O processo de upgrade eu já tinha testado no notebook, do 7.4 para o
7.5. Foi super rápido e fluido, eu não precisei fazer quase nada, e ao
terminar ele ainda me deu os parabéns ;)

A infraestrutura do projeto é super robusta e autônoma, possui vários
espelhos (inclusive um no Brasil), possui listas de e-mail para suporte
(além dos canais IRC no libera.chat). Todo o código-fonte do sistema
fica hospedado em servidores próprios, e são versionados via CVS
(acessíveis publicamente por uma interface Web). O repositório no
Github é apenas um espelho.

A hierarquia do sistema de arquivos é bem planejada e construída sobre
o legado deixado pelo UNIX. E como não poderia deixar de ser, está bem
explicada via man page.

O OpenBSD já tem tudo que é preciso pro sistema funcionar, como parte
do sistema mesmo, e até um pouco mais (httpd, por exemplo). Os
utilitários nativos dele abrangem todas as atividades básicas do
sistema. A propósito, gostei muito do cwm, que é um dos gerenciadores
de janelas que já vem nativo.

De um modo geral, o que mais gosto no OpenBSD é que ele provavelmente
nunca vai me surpreender. É um sistema previsível e possui uma
governança previsível. Ele muda lentamente, embora ainda assim sempre
apresente inovações importantes a cada versão lançada.

Pontos negativos
================

- Sistema de pacotes
- Algumas operações mais lentas
- Uso dos processadores quando na tomada
- Localização (l10n) e Internacionalização (i18n)

O sistema de pacotes do OpenBSD cobre o básico. Mas pra alguém que veio
do Void com um super gerenciador como o XBPS, ele deixa muito a
desejar. Informações básicas como listar as dependências de um pacote
não são suportadas (embora seja possível fazer isso via hacks). Ele não
mantém um cache local, e toda vez que vou consultar metadados de
pacotes, isso requer uma consulta ao espelho configurado.

O OpenBSD também possui uma quantidade de pacotes bem mais limitada que
a maior parte das distros. Isso não me incomoda tanto, pois ele tem
tudo que preciso, mas é um ponto relevante a ser mencionado.

Notei que algumas operações nele (pra dizer a verdade, bem poucas)
ocorrem de maneira consideravelmente mais lenta. Por exemplo, uso o
hblock para filtrar domínios indesejados, configurando o /etc/hosts. No
Linux, a etapa final de saneamento do arquivo leva uma fração de
segundos. No OpenBSD, leva entre 3 e 7 minutos, a depender do tamanho
do arquivo. Impraticável? Não, mas incomoda que exista uma diferença
tão brusca. Estou considerando substituir o hblock no futuro por outra
solução.

Operações de varredura do disco eu também achei bem demoradas. Notei
isso primeiro durante a instalação, quando escrevi bytes aleatórios nos
discos. Depois, no momento de restaurar os backups. E pra piorar,
quando existe alguma interrupção do sistema (picos de energia, por
exemplo), ele precisa fazer uma varredura dos sistemas de arquivos para
checar a integridade, o que também demora um pouco (não cheguei a
calcular, mas acho que uns 5 ~ 10 minutos).

Quando existem inconsistências, ele precisa que eu confirme se quero
que aplique a correção (o que obviamente eu confirmo, pois do contrário
não vai ser possível montar o sistema). Aí preciso confiar na correção
que ele vai aplicar (não que tenha tido algum problema até aqui). Seja
como for, isso reforça a importância dos backups.

Também notei que até pouco tempo atrás, o suporte a VAAPI no OpenBSD
não existia. Só recentemente foi integrado ao sistema, o que oferece
uma melhora significativa em reproduções de vídeo e renderização Web.
Está ainda no current, então só no próximo upgrade (que deve sair entre
final de outubro e início de novembro) é que vai estar disponível.
Ainda assim, eu não diria que hoje esteja inviável fazer essas
operações (até porque é um processador razoavelmente moderno, então ele
consegue segurar o tranco).

Por falar em processador, eu notei inicialmente que o barulho das
ventoinhas estava muito frequente, mesmo pra operações simples, como
abrir o navegador Web ou alguma outra aplicação gráfica. Percebi que a
temperatura estava oscilando com uma certa facilidade e fui investigar
o motivo. Aí percebi que o problema é que desde a versão 7.1, o OpenBSD
configura o perfil de energia para usar o máximo de capacidade de
processamento, o que é um desperdício, além de aquecer mais.

Li um artigo no blog da Solène, que é relativamente conhecida entre
usuários do OpenBSD, e que fala sobre isso e menciona um serviço que
criou, o obsdfreqd. Isso resolveu meu problema. Ele reconfigura o
perfil para um modo mais econômico.

Bom, pra fechar sobre os pontos negativos, algo que eu já achava meio
esperado, mas não deixa de ser um incômodo. O suporte a localização
(formatos de datas, números, e outras convenções) e internacionalização
(disponibilizar o mesmo conteúdo em idiomas diferentes) no OpenBSD é
muito limitado.

A documentação oficial sugere usar o locale `en_US.UTF-8`, quando
suporte a UTF-8 é necessário (para disponibilizar os caracteres de
outros idiomas), mas isso significa que os programas vão assumir o
idioma inglês no sistema. Alguns programas, obviamente, podem ser
reconfigurados pra usar um idioma diferente do sistema, mas ainda
assim, esse é um ponto que poderia melhorar.

Pontos neutros
==============

- PID 1 e serviços
- CVS vs git

O gerenciamento de serviços no OpenBSD funciona muito bem. Eu gostava
muito do runit no Void, mas o rc no OpenBSD não deve nada, e também é
bem configurável.

Vale notar que o OpenBSD usar o CVS pra versionar o código-fonte.
Pessoalmente prefiro o git, mas não vejo como grande problema ele usar
o CVS. É o que funciona para eles, e inclusive posso consultar todo o
código pela Web.

Bem, isso foi o que observei até aqui. No geral, não me arrependo e
estou bastante satisfeito com a migração. Engraçado que às vezes até me
esqueço de que migrei (pois no geral as aplicações que uso hoje são
quase as mesmas de antes).

Conforme observar novos pontos que achar interessantes sobre o sistema,
vou atualizando.

--
Att,
@hrcerq

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